Quando eu falo, ninguém me entende…
“Ele não me entende”, “Ela não me ouve”. Frases comuns em qualquer relação, seja ela de amizade, entre pais e filhos, de trabalho, entre casais. Comunicar o que queremos com clareza nem sempre é simples. Às vezes estamos tão empenhados em dizer o que queremos que não prestamos atenção ao nosso interlocutor. Será que ele está entendendo o que eu estou dizendo? Será que eu estou me expressando de forma clara? Ficamos tão preocupados com o que estamos falando ou em julgar, avaliar e criticar o que estamos ouvindo, que o que era para ser um diálogo parece mais um monólogo, se transforma numa conversa improdutiva ou vira uma discussão.
Esquecemos que quando estamos falando algo estamos partindo do nosso ponto de vista, das nossas experiências e não podemos exigir ou esperar que o outro “veja com os meus olhos”, ou melhor, “ouça com os meus ouvidos”, o que eu estou dizendo. Isto porque esse outro tem a sua história, seu ponto de vista, seu modo de ver as coisas. Pare de esperar que o outro adivinhe o que você deseja, dizendo que “ele tinha que perceber, afinal é óbvio”. Lembre-se que o que está óbvio para você pode não ser para o outro. O que é certo para você pode não ser o certo para o outro. Se estou ouvindo, por exemplo, o que o meu parceiro está dizendo, mas estou estabelecendo juízos de valor do tipo “isso que ele está falando é bobagem, ele está errado,” será muito difícil ouvir o que ele, de fato, está dizendo.
Fato e opinião
Precisamos diferenciar o fato da opinião. Muitas vezes, o que o outro está nos comunicando é a opinião dele, o que ele acha sobre um fato, sobre algo que aconteceu. O fato é algo que ocorreu. Por exemplo: a esposa escolhe um vestido vermelho para usar numa festa e pergunta ao marido se ele gosta do vestido que ela escolheu. Este é o fato. Ele responde que prefere o vestido preto. Essa é a opinião dele. Contudo, ela encara essa opinião (a de que ele gosta do vestido preto) como um fato: ouve que o que ele está dizendo na verdade é que ela está feia, que ele não gosta tanto dela assim e transforma isso numa verdade, num fato: “Ele não me aprova”. E uma discussão se inicia a partir disso. Entender que o que outro está dizendo é uma opinião dele e não uma verdade a seu respeito ou a respeito dos fatos auxilia no processo de comunicação. Podemos concordar ou não com a opinião do outro, podemos seguir sua sugestão ou não. A esposa poderia simplesmente agradecer a opinião do marido e escolher usar o vestido vermelho, se entendesse que ele deu sua opinião. Ele disse uma coisa e ela ouviu outra, baseada nas suas emoções, impressões. Essas distorções, esses ruídos dificultam e prejudicam demasiadamente os relacionamentos.
Comunicação empática
Aliás, para uma comunicação eficaz, é importante aprendermos a nos colocar no lugar do outro, prestar atenção ao outro. Se ficarmos interessados apenas no nosso ponto de vista, nas nossas ideias, não seremos capazes de nos comunicar verdadeiramente. É o que chamamos de comunicação empática. A empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de procurar olhar com os seus olhos, a partir do seu ponto de vista.
Se você deseja melhorar sua comunicação nos seus relacionamentos,aprenda a ouvir. Isso implica em estar atento não só a fala, mas aos gestos, emoções da outra pessoa, em ser empático. Saber ouvir é estar genuinamente interessado no que o outro tem a dizer a você, considerar a expressão do outro importante, digna de atenção, respeito.
Aprenda também a dar “feedback”. Fale o que está sentindo, compreendendo o que o outro está dizendo a você. Faça pequenos resumos do que o outro falou, para checar se está entendendo de fato o que ele quer comunicar. Por exemplo, mãe e filho conversam e o filho diz: “Você está dizendo que eu deixo todas as coisas fora do lugar em casa. Sinto-me chateado quando você fala isso, pois mantenho meu quarto, minhas coisas pessoais organizadas”. Lembre-se que se você se abre para falar o que sente, é importante se abrir para ouvir o que o outro sente e pensa em relação a você. Por exemplo: a mãe responde: “Eu também fico chateada com você, porque sinto que você não se importa com a organização do espaço da casa que é comum a nós dois.” Ambos estão aqui expondo seu ponto de vista, seus sentimentos, responsabilizando-se pelo que sentem, resumindo o que o outro disse para checar se houve uma correta compreensão.
Pare de “desenterrar defuntos”
Evite acusar, criticar, julgar. Lembre-se que o que nos chateia, magoa, irrita, tem a ver com a nossa forma de perceber o mundo com nossas opiniões sobre o que é certo ou errado. Se começarmos a julgar, acusar, isso não nos levará a solucionar a questão, mas sim a ficarmos “remoendo” os fatos, os sentimentos, as atitudes do outro. Quantas relações se desgastam porque os envolvidos gastam toda sua energia em acusar e dizer o que o outro não fez ou fez para as coisas saírem erradas. Desperdiça-se um tempo imenso “desenterrando defuntos” e não se chega a uma mudança efetiva de atitude. Relacionamento, seja ele de qualquer tipo, é uma via de mão dupla, ambos contribuem para que ele (o relacionamento) seja como é, ambos têm acertos e erros. Se um tem uma atitude agressiva, por exemplo, é porque o outro permite e dá sinais de que isso pode continuar a acontecer. Se o ciclo não for quebrado, nada mudará.
Reconhecidas as atitudes que prejudicam a relação e o convívio, seja em casa, no trabalho, na escola, é importante que os envolvidos se comprometam com a mudança. O que podemos fazer para melhorar o convívio, para mudar a atitude? De que modo cada um pode contribuir para as coisas acontecerem de modo diferente?
Se aprendermos a nos ouvir, julgar menos a nós mesmos, sermos acolhedores conosco mesmos, seremos capazes de fazê-lo com os outros. Se compreendermos que assim como desejamos ser ouvidos, acolhidos, aceitos na nossa expressão, o outro também deseja o mesmo, seremos capazes de nos comunicar melhor. Enfim, faça mais do que olhar, observe, faça mais do que escutar, ouça, compreenda, não apenas fale, comunique-se.