A arte de se relacionar
Costumo dizer que estamos nessa vida, nesse mundo para aprender a arte de amar. Todos os problemas de relacionamento começam na forma como lidamos com o amor. Se nos sentimos amados, aceitos, queridos, compreendidos e se somos assim com o outro, qualquer relacionamento flui, seja ele familiar, afetivo, profissional. Buscamos amigos que se relacionem conosco de modo amoroso, buscamos uma trabalho em que sejamos reconhecidos, buscamos um parceiro (a) pelo qual nos sintamos amados. Mas a relação de amor primordial é aquela que estabelecemos com nossos pais. Se nos sentimos amados por eles, se aprendemos a demonstrar amor por eles, seremos mais capazes de ser amorosos com os outros e com o mundo. Esse primeiro aprendizado de como nos relacionar marca nossas vidas, e se não nos tornamos conscientes de nosso modo de fazê-lo, podemos seguir repetindo padrões, comportamentos, carências.
Desequilíbrio entre dar e receber
Os problemas de relacionamento começam, portanto, em maior ou menor grau, a partir do desequilíbrio entre os atos de dar e receber amor (aprovação, carinho, reconhecimento, respeito, etc). Frases como: “Ele não me dá atenção, não me ouve!”; “Eu faço tudo por ela, trabalho, me esforço, e ela não reconhece tudo o que eu faço.”;“Nunca ganhei um abraço do meu pai!”; “Ele não me ama tanto quanto eu o amo”; são recorrentes quando estamos nos sentindo pouco amados, carentes, quando nosso tanque de amor está vazio, ou com muito pouca água. Pensamos que estamos dando mais do que recebendo; ou nos sentimos culpados porque damos pouco e não nos achamos dignos de receber tanto; sentimos raiva de doar, sem receber nada ou quase nada em troca; achamo-nos mais importantes ou no direito de controlar a vida do outro porque estamos lhe dando algo; nos sentimos inferiores porque o outro doa para nós; queremos receber aquilo que queremos, do jeito que queremos, na hora que queremos e nos vingamos do outro que não nos dá isso. Esses exemplos do desequilíbrio entre dar e receber são vivências constantes na vida de muitas pessoas. E ocorrem porque nos esquecemos de algo muito importante: dar e receber tem igual valor, tem igual importância. Eu não posso doar se não há ninguém que queira receber e eu preciso aceitar receber para que alguém possa me doar. Doador e receptor são papéis complementares. O amor precisa fluir. Preciso ser capaz de doar amor, mas também preciso ser capaz de receber o que o outro tem a me oferecer.
Desse desequilíbrio surgem os demais problemas: competição; brigas; tentativas de provar para o outro nossa importância; tentativa de dominação; problemas de comunicação; expectativas irrealistas; cobranças; carências; manipulações; desejo de mudar o outro; e mais uma lista gigantesca de situações, que se analisarmos mais detidamente, perceberemos que elas temorigem nesse desequilíbrio entre dar e receber amor.
Relacionamentos como espelhos
Esse desequilíbrio tem sua origem na forma como me relaciono comigo mesma, se sou capaz ou não de me amar, me aceitar, me compreender, me apoiar. Se aprendi a me amar e me respeitar na minha infância, tendo a repetir essa forma de relação na minha vida adulta, na forma como me relaciono com as pessoas e com o mundo lá fora. Vou espelhar no mundo a forma como me relaciono comigo mesma.
Ocorre que se eu não aprendi a fazer isso comigo mesma, começo a esperar que as pessoas no mundo lá fora, façam isso por mim. Espero que elas me tratem com respeito, carinho, aceitação, reconhecimento e passo a me esforçar para conseguir isso do mundo. Tento comunicar isso para o mundo com palavras, atitudes, gestos que às vezes são o oposto do que quero pedir. Se isso não vem, me frustro, me sinto carente, sofro e culpo o outro por não me dar o que eu acho que pedi claramente. Por isso, tantos relacionamentos desgastados, pessoas carentes, sofrendo de falta de amor.
Mas como aprender a arte de se relacionar?
Aprendendo a nos relacionar de modo diferente conosco mesmos. Mudando os padrões que viemos repetindo durante toda uma vida. Pierre Weil, educador e psicólogo francês, afirma: “A educação para uma arte de viver em Paz, começa pela harmonia, o equilíbrio interior entre o corpo, as emoções e a mente, entre a vida física, emocional e intelectual.” Precisamos aprender a lidar com nossas carências, como nossas emoções negativas como raiva, ciúme, apego, tentativa de controlar e dominar o outro, precisamos construir uma forma mais amorosa de nos relacionarmos conosco mesmos.
Precisamos aprender a ser nosso melhor amigo, e a nos tratar como trataríamos nosso melhor amigo ou a um filho querido. Precisamos aprender a nos acalentar, a aceitar nossas imperfeições, erros, a nos dar colo, carinho, apoio, compreensão, precisamos aprender a nos ouvir, a nos expressar, a pedir o precisamos, mas para quem tem isso a nos oferecer. Não adianta eu pedir algo para alguém que não o possui. Esse aprendizado só pode ser feito quando decidimos olhar para dentro, olhar para nós, perceber quais comportamentos autodestrutivos estamos mantendo em nossa vida. Isso pode ser feito de diversas formas: psicoterapia, meditação, contato com aspectos espirituais, conversas com pessoas que nos conhecem bem e estão dispostas a nos mostrar o que precisamos mudar. O mais importante é querer mudar. É se dispor a trilhar um novo caminho, ou a trilhar de um modo diferente um caminho já conhecido. Aprender a amar e a relacionarmo-nos é uma arte para ser praticada durante toda a nossa vida. Sigamos caminhando, aprendendo e crescendo e amando!